terça-feira, 22 de outubro de 2013

SERMÃO DO TERRÁQUEO


            Todos nós, terráqueos, somos iguais. Se somos plantas, ou insetos ou lagartos ou pessoas. Somos todos da mesma evolução, desde que a Terra resolveu abrigar nossa era. Na explosão inicial, tudo era poeira, fogo e hidrogênio. O som não se espalhou pelo vácuo, foi um boom silencioso. Tempos e tempos depois, a vida sorriu para o nosso lado e nos brindou com enigmas a importância de sermos nada. Dizer que o universo não seria o mesmo se não houvesse vida, é a parte mais soberba do nosso ego se inflando. Carl Sagan que me perdoe. Porém de ciências astronômicas ou físicas eu não entendo, mas aqui venho expressar meu lado mais egoísta, minha visão sobre a condição humana da curiosidade e uma perspectiva para o estouro interno de sentimentos que nada se confundirão com o dos astros.
           
            Talvez você creia na sua racionalidade como a forma de diferi-lo das outras espécies remanescentes [que ainda sobrevivem no mesmo mundo que nós]. Talvez você, com sua ladainha, venha querer me provar que tem sua opinião, sua decisão e seu poder de discernimento. Pior ainda: você virá me convidar a um festejo, cujo cerne será a vitória do seu poder de subjugar outras formas de vida, como se elas fossem menor que a sua, menor que o seu direito de ser livre e de viver plenamente.
            Na verdade, a forma que pensamos nos nossos poderes é bem diferente da de que podemos tê-lo. Nossa estadia é curta e sempre incorporamos alguma coisa da sociedade. Por que, além de racionais, cremo-nos ‘sociáveis’. Uma das maiores piadas que já me contaram. Sociáveis, nós? Nem conosco mesmo, nem com os outros. Toda a terra tem o desgosto de conviver com nosso egocentrismo.
            Achamo-nos racionais e sociáveis. Mais inteligentes. Nossa inteligência é movida pelo novo. Pela vontade de descobrir. Até nos depararmos com questões que, se respondidas, será o fim da nossa espécie. Entretanto, esta é uma questão menos inata que parece.
            A curiosidade do ser humano depende em que contexto ele está inserido, em que tipo de sociedade, qual foi a educação dada a ele.
Ninguém com uma consciência modesta perceberia que a curiosidade é perigosa para a nossa sobrevivência na Terra. “Que baboseira”, diria esta mesma consciência modesta; “afinal, é a vontade de saber coisas novas que move o mundo”.
Não.
Está aí, mais uma concepção egoísta que nós temos sobre nossa importância. Quando começamos a caçar não foi pela curiosidade de saber qual a sensação de matar um animal, mas sim para nossa sobrevivência. Quando conseguimos produzir fogo, não foi para fazer queimadas, e sim para nossa sobrevivência. Quando inventamos a energia elétrica, não foi para a nossa sobrevivência, foi por uma simples questão de comodidade. Quando inventamos a energia nuclear, indireta ou diretamente, foi para nos sobrepormos a nós mesmos. Pessoas contra pessoas. Fortes contra fracos. Ricos contra pobres.
E qual a consequência de tanto invento, de tanta manifestação do valor humano sobre os demais? será que é por causa destas invenções que nós pensamos ser mais racionais e dignos que os elefantes, por exemplo?
Sim, nós, humanos, temos a ojerizante mania de querer sempre crescer em riquezas e poderes. Mas o que te torna mais forte que seu semelhante? a sua saúde e seu poder de caça, ou o seu conteúdo econômico? A evolução humana findou-se com o surgimento dos primeiros pensadores. Foi quando o ser humano deixou de lado seus instintos animais para demonstrar ao mundo sua concepção de vida correta, plena e feliz.
Os animais nos parecem tristes e depressivos quando a natureza os rege? pois bem, eles vivem da maneira que têm que se viver. E isso não é e nem chega perto de comodidade, mas sim de consciência de seu lugar no mundo. E ainda nos orgulhamos da racionalidade! Não fui eu, nem você, ou ao menos o presidente da ONU que regulamentou como eles devem viver, e sim a evolução das espécies.
Se os seres humanos seguissem mais seus instintos animais que sua racionalidade, não precisaríamos nem de analistas para nos conhecermos.
A curiosidade trouxe a ruína para o planeta. "Do pó viemos, para o pó voltaremos", frase nenhuma exprime melhor nosso passado e futuro. E nesse meio tempo, vivemos crendo que a felicidade existe, que a vida moderna faz sentido e que, mesmo sendo a única espécie que paga para viver aqui, ainda teremos alguma recompensa nesta ou numa próxima vida.


Dizem alguns que o segredo para uma vida longa é comer pouco. Outros ainda tentam me convencer da baboseira que viver bem é gastar seu tempo da mais produtiva maneira. Eu, já concordando com Cândido de Voltaire, penso que "devemos cultivar nosso próprio jardim", sem pensar no que as borboletas possam nos oferecer de sua beleza, ou em que época as abelhas polinizarão ano que vem. Conhecer-se a si próprio, sem esperar nada de fábulas tranquilizadoras que nada mais querem que reger seu discernimento, aquele mesmo que você tanto se orgulha ser de sua propriedade, e ter ciência do teu lugar no universo, proporcionar-te-iam melhores emoções do que a compra de um carro ou o ingresso numa universidade.
O que guia nossas emoções não é nada inventado pela modernidade, veio conosco desde nossos primórdios e cavernoso passado. Um verso, de minha autoria, conta-nos aquilo que poucos querem ouvir: "Essa tal de vida moderna.../ Esse negócio de dívida externa.../ Deixa a evolução tardia e/ Eu só queria voltar para a minha caverna."
A vida moderna não tem sentido! que bem evolutivo você, pensando de maneira crítica, encontra na vida que você vive? é duro acreditar que a modernidade só tem aprimorado o TEU retardamento pessoal, que toda a sapiência que você acha que tem, se esvairá no seu leito de morte, e você ainda vai morrer achando que contribuir para o seu 'belo quadro social' (Ouro de tolo, Raul Seixas) foi a melhor coisa que você fez.

Olhar a sua volta é fácil, viver conforme a sociedade positivista melhor quer que você se desenvolva, também; agora tente si escutar aos sentimentos próprios que vem com você desde que éramos poeira de estrelas.
                                               (Terráquea Quintiliano)

14.10.2013

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