sábado, 9 de novembro de 2013

COMO MATAR COM FRASES CURTAS


               Mesmo antes de abrir os olhos, eu via um vulto claro, em meio a mais claridade ainda. Era manhã, seis, o sol já apontava. O vulto branco era ela. De camisola. Parecia um anjo. Se eu não a odiasse tanto, diria que era.
                Mas ela, ao menos, sentia algo bom por mim. Por isso a camisola. Por isso a alvorada. Eu a odiava. Não importava o motivo. Ela me fez romper a vida, o amor-próprio e as contas. E estes são pretextos suficientes para se detestar alguém.
                Ficou nua.
                Não. Eu não ia me deitar com aquela mísera novamente. Mas ela estava nua. E me queria. Eu sou homem, não podia resistir. Empurrei-a para trás. Ao relar em seus braços nus, brancos e macios, não senti nada; não existia mais tesão nem desejo por ela.
                Eu broxei.
                Foi uma vitória. Eu, contra quem acabou com minha vitalidade. Fechei os olhos. Ela ia saindo do quarto. Abri-os, de novo. Rebolava, maliciosamente, aquele bumbum arrebitado e peladinho.

                Um instante de desonra. Eu sou homem. Odiei-a por trás, feito égua. Ela caiu. Levantou-se nunca mais. Vinguei-me.

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