quinta-feira, 7 de novembro de 2013

INSÓLITO COTIDIANO: ESTRANGEIRO DO MUNDO REAL II

Sou forte. Sempre me menti isso. Às vezes, me dizia tão bem que até chegava a acreditar, sabe? Na boa, eu sou é um fracote. Um fracote rebelde. A rebeldia me deixa insone, até! Mas ela me dá uma sensação boa de dever cumprido. Mais uma enganação para as contas de mentiras da minha vida.
                Se eu falar que minha vida toda foi baseada em enganos, além de estar plagiando Veríssimo, estaria mentindo. Porém, mais mentiras sossegadoras para a falaciosa intenção de ser que tenho, seria uma ironia.
                E de ironias eu entendo um bocado.
                Além de minha rebeldia carbonariana, a minha mania de querer ser o que não sou, o artista arteiro e maconheiro que demonstro bem ser, é de mentira; ele não existe. As crônicas que escrevo e as poesias que recito nem minhas são, totalmente.
                Mas, então, o que é meu? O que sou eu? Tá aí a pergunta que rege a minha existência. Quase uma Teoria do Caos, sem equação, sem resposta; nem mesmo sei se ela existe!
                Caos, assim passarei a me chamar agora. Só eu me chamando, claro. Não vou sair por aí me apresentando assim. As pessoas comuns e normais, que acham que se entendem, se conhecem e são livres, achariam, também, esse meu nome estranho. Caos? Um rapaz tão bonito com um apelido destes!, poderiam dizer.
                Eu era bonito; aliás, sou. Talvez seja este o motivo de eu ainda estar vagueando, mesmo que a esmo e a erro. Ser bonito também é um erro. Eu não quero ser apenas o belo que se vê. Se as pessoas sentissem mais e olhassem menos, estaríamos perto de uma revolução que apaziguaria nervos. Que construiria pessoas verdadeiras.
                E por falar em verdade, vou lhes apresentar minhas contas: 43; aos 20 me casei; aos 30 em divorciei; aos 32 fui parar num manicômio; aos 41 saí de lá; desde então, enlouqueço cada vez mais. A contagem do tempo não faz sentido. Contamos experiências girando em torno de uma estrela! Não sei como acontece em outros mundos, mas aqui é esta bobagem.
(...)


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