Sou forte. Sempre me menti isso.
Às vezes, me dizia tão bem que até chegava a acreditar, sabe? Na boa, eu sou é
um fracote. Um fracote rebelde. A rebeldia me deixa insone, até! Mas ela me dá
uma sensação boa de dever cumprido. Mais uma enganação para as contas de
mentiras da minha vida.
Se eu
falar que minha vida toda foi baseada em enganos, além de estar plagiando
Veríssimo, estaria mentindo. Porém, mais mentiras sossegadoras para a falaciosa
intenção de ser que tenho, seria uma ironia.
E de
ironias eu entendo um bocado.
Além de
minha rebeldia carbonariana, a minha mania de querer ser o que não sou, o
artista arteiro e maconheiro que demonstro bem ser, é de mentira; ele não
existe. As crônicas que escrevo e as poesias que recito nem minhas são,
totalmente.
Mas,
então, o que é meu? O que sou eu? Tá aí a pergunta que rege a minha existência.
Quase uma Teoria do Caos, sem equação, sem resposta; nem mesmo sei se ela
existe!
Caos,
assim passarei a me chamar agora. Só eu me chamando, claro. Não vou sair por aí
me apresentando assim. As pessoas comuns e normais, que acham que se entendem,
se conhecem e são livres, achariam, também, esse meu nome estranho. Caos? Um
rapaz tão bonito com um apelido destes!, poderiam dizer.
Eu era
bonito; aliás, sou. Talvez seja este o motivo de eu ainda estar vagueando,
mesmo que a esmo e a erro. Ser bonito também é um erro. Eu não quero ser apenas
o belo que se vê. Se as pessoas sentissem mais e olhassem menos, estaríamos
perto de uma revolução que apaziguaria nervos. Que construiria pessoas
verdadeiras.
E por
falar em verdade, vou lhes apresentar minhas contas: 43; aos 20 me casei; aos
30 em divorciei; aos 32 fui parar num manicômio; aos 41 saí de lá; desde então,
enlouqueço cada vez mais. A contagem do tempo não faz sentido. Contamos
experiências girando em torno de uma estrela! Não sei como acontece em outros
mundos, mas aqui é esta bobagem.
(...)