Ela estava
entre amigas, no pátio da escola, comendo não sei lá o que vermelho. Acho que
era um tomate. Só que é meio incomum alguém comer tomate na escola. Mas ela era
especial, e não qualquer patricinha burra e loira, dessas que tem aos montes
por aí. Ela era morena. Pele dourada.
Maçã? Podia
ser uma maçã.
Não importa.
Quis ir lá pedir um pedaço. Talvez, mais pela curiosidade de saber o que era
mesmo. Não, vou me conter.
“Já sei”,
eu já não sabia de nada, “vou fingir que conheço uma das amigas dela, depois eu
disfarço e digo que foi um engano”. Eu pensava que, assim, conseguiria adentrar
um pouco naquela conversa. Engano meu, pois não tive coragem nem de pensar
novamente numa insanidade dessas. Não movi um fio do meu cabelo.
Uma daquelas
meninas que estava com a mais linda de todas, a qual não sei o nome, estudava
com a minha irmã, e elas tinham brigado há algum tempo antes disso, não sei
porquê. Nem queria saber. Mas já era um assunto!
Minha face
coçava nos bigodes, feito em homens de coragem quando estão pensando num plano
maquiavélico perfeito para roubar a grana de um banqueiro qualquer. Acho que
tenho visto filmes demais, pois era só uma pelagenzinha fina que estava
nascendo e que me incomodava naquele momento.
Faltavam
cinco minutos para o intervalo acabar, e eu já estava me desesperando. Como é
que uma paixão de quinze minutos pode deixar a gente tão aflito, meu Deus?
Responda!
Elas
saíram do lugar e começaram a andar. Ah, mas ela desfilava! Já tinha terminado
de comer e eu não pude ver nada vermelho na passarela com ela.
Elas estavam
chegando perto de mim. Podia jurar que estavam vindo em minha direção. Ela, na
frente. Altiva. Biscate. Agora, eu já não juraria mais nada, ela estava mesmo
vindo ao meu encontro.
Será que,
ao invés de pensar, eu estava falando em voz alta e berrante, ela escutou tudo
e teve pena de mim? Será que ela percebeu que não tirei os olhos dela durante
os últimos 18 minutos e veio me falar o que estava comendo? Será que...
- Sua
braguilha está aberta.
Riu. Risada
tímida. Piscou. Biscate.
- Ah,
obrigado por avisar.
“Só a
cabecinha está de fora e ela veio conferir de perto meu membro.”
- Hei,
espera!
Olhei
para conferir. Estranhei. A minha braguilha não estava nenhum pouco aberta. Aliás,
nem braguilha tinha na minha calça de moletom! No chão, um papelzinho branco,
com um número de telefone, um beijo de batom vermelho e a seguinte mensagem: “Deixa
eu colocar a cabecinha pra dentro?”.
Vadia.