domingo, 2 de fevereiro de 2014

A PRIMEIRA PAIXÃO

                 Talvez, eu devesse mijar na cara dela para que ela olhasse para mim, nem que fosse só pra me matar. Mas, mijando, ela conferiria bem mais coisas minhas. Acho que ela não ia querer me matar, desse jeito. Sei lá, algo me impedia de fazer isto. Minha bexiga estava sossegada naquele momento e eu tinha que chamar a atenção dela, de qualquer maneira.
                Ela estava entre amigas, no pátio da escola, comendo não sei lá o que vermelho. Acho que era um tomate. Só que é meio incomum alguém comer tomate na escola. Mas ela era especial, e não qualquer patricinha burra e loira, dessas que tem aos montes por aí. Ela era morena. Pele dourada.
                Maçã? Podia ser uma maçã.
                Não importa. Quis ir lá pedir um pedaço. Talvez, mais pela curiosidade de saber o que era mesmo. Não, vou me conter.
                “Já sei”, eu já não sabia de nada, “vou fingir que conheço uma das amigas dela, depois eu disfarço e digo que foi um engano”. Eu pensava que, assim, conseguiria adentrar um pouco naquela conversa. Engano meu, pois não tive coragem nem de pensar novamente numa insanidade dessas. Não movi um fio do meu cabelo.
                Uma daquelas meninas que estava com a mais linda de todas, a qual não sei o nome, estudava com a minha irmã, e elas tinham brigado há algum tempo antes disso, não sei porquê. Nem queria saber. Mas já era um assunto!
                Minha face coçava nos bigodes, feito em homens de coragem quando estão pensando num plano maquiavélico perfeito para roubar a grana de um banqueiro qualquer. Acho que tenho visto filmes demais, pois era só uma pelagenzinha fina que estava nascendo e que me incomodava naquele momento.
                Faltavam cinco minutos para o intervalo acabar, e eu já estava me desesperando. Como é que uma paixão de quinze minutos pode deixar a gente tão aflito, meu Deus? Responda!
                Elas saíram do lugar e começaram a andar. Ah, mas ela desfilava! Já tinha terminado de comer e eu não pude ver nada vermelho na passarela com ela.
                Elas estavam chegando perto de mim. Podia jurar que estavam vindo em minha direção. Ela, na frente. Altiva. Biscate. Agora, eu já não juraria mais nada, ela estava mesmo vindo ao meu encontro.
                Será que, ao invés de pensar, eu estava falando em voz alta e berrante, ela escutou tudo e teve pena de mim? Será que ela percebeu que não tirei os olhos dela durante os últimos 18 minutos e veio me falar o que estava comendo? Será que...
                - Sua braguilha está aberta.
                Riu. Risada tímida. Piscou. Biscate.
                - Ah, obrigado por avisar.
                “Só a cabecinha está de fora e ela veio conferir de perto meu membro.”
                - Hei, espera!
                Olhei para conferir. Estranhei. A minha braguilha não estava nenhum pouco aberta. Aliás, nem braguilha tinha na minha calça de moletom! No chão, um papelzinho branco, com um número de telefone, um beijo de batom vermelho e a seguinte mensagem: “Deixa eu colocar a cabecinha pra dentro?”.
                Vadia.