Talvez eu pensasse em escrever a ela uma carta. Um bilhete. Com flores. Qualquer coisa que pudesse mostrar amor, mais que só palavras.
Talvez eu pensasse em mandar a ela somente flores. Mas quais? Não sei, entendo pouco de flores. Rosas são vermelhas e violetas são azuis. Mas e as amarelas, as roxas? Por que as flores têm nomes diferentes às suas cores? Tá aí uma questão que só perguntando pra Deus mesmo pra saber a resposta. O problema não são flores, nem cores, nem Deus. É a indecisão.
Talvez eu devesse dar a ela chocolates. Ela ia gostar bastante. Ia comer tudo sem me dar um bombom. Não, os chocolates eu vou comprar pra mim. Meio amargo. Com castanhas.
Castanhas! Acho que vou presenteá-la com castanholas. Ela sempre gostou destas coisas exóticas. Arriba! Ela ia ficar bem sensual tocando castanholas e vestindo um longo vermelho. Algo me diz que ela não sabe tocar castanholas.
Por que tão complicada?
Talvez - mas este 'talvez' é mais provável - eu pensasse realmente mais nela que em tudo que há. Mas acho que isso não é tão relevante, até porque, não vai me dar nenhuma solução.
Vou para de matutar neste presente, então. Ele é insolúvel. Continuarei sonhando com o futuro.
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
COMO MATAR II
- ESPERO ESTAR bem cumprindo tuas ordens, senhor!
- Pois eu já não espero nada mais que tua obrigação.
- Sou-lhe muito grato pelo que tenho e pelo que me dá.
- Errado, pulha! Eu gasto vinte vezes mais que tudo o que
você já ganhou na tua vida, em uma semana, e sempre estou querendo mais! Deixe de
ter esse pensamento medíocre de gratidão. Ele não te levará a nada.
- Parece que está tentando me jogar contra o senhor mesmo!
- E estou. Olha, miserável, – apontando-lhe o indicador nas
fuças – atire em mim. Pegue este estilingue de cuspes, que você ousa em chamar
de arma, e atire em mim. No meu rosto.
- Mas... Não posso.
- Atire, desgraçado! Estou lhe dando uma chance.
O pobre
diacho pensou duas longas vezes antes de pôr suas trêmulas mãos na arma. Suava frio.
Sabia que se matasse Dom Emiliano morreria pelas mãos de seus capangas;
entretanto, se ele não o matasse, morreria do mesmo jeito, pelas mãos dos
mesmos fantoches. Era um tiro e uma queda. Estava na escolha de Villares, quem
cairia primeiro.
- Esta é a hora em que morro, senhor?
- Esta é a hora em que aprende que não há espaço para traíras
e pena neste mundo, Villa. –disse, calmamente - Há muito deveria ter entendido
isto.
- Isso foi um sim?
- Chega de perguntas, filho duma puta! Honre esse saco que
você tem. Ou tinha.
Dom
Emiliano, grande esgrimista e um dos maiores atiradores de Sísbora, e de toda a
margem do gigantesco Rio Fortuna, em cheio, enterrou uma bala entre as pernas
do rapaz, que, de súbito e com um gemido de dor, caiu, se contorcendo.
- Arrrrr! Que... Que te fiz, seu desgraçado?
- Ah, até que enfim, a pergunta certa! Pena que é tarde
demais, já está aí, todo fodido. Além de traidor, você é burro, sabia? –
abaixou-se, junto ao rosto do ferido. E agora, frutinha. Hahaha! Você é a
pessoa mais incompetente que já trabalhou pra mim. Não sei de que esgoto te
tiraram, seu merda, nem como eu pude aceita-lo aqui...
- Na verdade, suponho que o senhor saiba sim.
- Cala a porcaria dessa boca. – atirou na perna de Villa. Sim,
eu sei; matei-a hoje, pela manhã.
- Não... Arrrr...
- Aquela puta me enganou direitinho. Disse-me que era tua
irmã, e me pediu para colocá-lo no bando. Cai feito patinho.
- Não a chame assim. Eu a amava. – disse, conseguindo ficar
sobre os cotovelos.
- Ela se deitava com todo o bando, seu corno! Fiz-lhe foi um
favor à tua honra, matando a ela e a você.
- Eu sempre soube que ela era uma vadia. O corno, aqui, não
sou eu. Arrrr...
O
chefe, efervescido de raiva, deu um chute de bico na cara do coitado sem bolas,
afundando-lhe os dentes e o nariz.
- Corno, mas vivo.
Mansamente,
o corno vivo ia acendendo um charuto e saindo da sala, esquecendo-se da mais
importante regra de sua organização: nunca dê as costas ao inimigo, mesmo que
este esteja morto. Um tiro certeiro, transpassou-lhe a nuca. Morreu antes;
morreu perdedor.
Tanto sangue
jorrado, por causa de um par de peitos, naquela sala escura. Um divã, uma mesa
de centro, quatro prateleiras de livros, e dois cadáveres, agora, enfeitavam-na
da maneira mais macabra possível.
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
DIANTE DA DÚVIDA, UM SIM
Os anos,
que passam, não lhe davam respostas. Nem claras nem obscuras. Nenhuma.
Definição. Luz. Nada. Ele cria estar perdido, talvez, para sempre, em tantas
interrogações, que se aninhavam num montante rijo, sem canto flexível.
E assim,
mesmo sofrendo por sua peculiaridade, conseguiu ser adulto e ter família. Aquele
menino que queria saber o mundo, cresceu e deixou as dúvidas de lado para proletarizar
e sobreviver.
Até que,
num dia qualquer, já bem velhinho, aquele que emburreceu nas certezas de seu
cotidiano, evocou a sua infância. As perguntas sem respostas. E na hora do
baque final, da senda para o outro lado, ele se lembrou de um dia ter brincando
de amarelinha, que pulava de casa em casa, e quando chegava no obstáculo,
ignorava-o e continuava rumo ao céu. Morreu sem saber as respostas; sorrindo.
terça-feira, 19 de novembro de 2013
ESTRANGEIRO DO MUNDO REAL III
Parado, fitava a lua, sobre os telhados das casas. A luz deixava tudo claro, e eu gostava do escuro da noite. Entretanto, não me decepcionei, não. É até cômico tentar fugir de algo que nunca sumirá de ti. Cômico não é bem a palavra, mas não estou com imaginação para palavra mais encaixável.
Os telhados. Eles eram diferentes uns dos outros, sabe? Eu nunca tinha reparado nisso. Por certo, eu nunca reparei nas coisas que não vejo. O que é errado. Só situar o telhado por cima de nós, que não o olhamos direito. Busquei mudar ‘my point of view’, como dizem os ingleses. Não, eu não falo inglês. Não fluentemente. Não morro de fome. Give me something to eat, please!
Por que será que falei de fome? Acho que não como há dias, mas não tenho fome. Fico só com vontade de pensar e de olhar para a lua. Acho que sou ‘luívoro’. Eu e minhas bobagens. O manicômio não me ensinou nada mesmo. Só a pensar. Eu não sabia pensar (e, em geral, as pessoas não o sabem), agora eu sei.
Juro que antes eu pensava na Filosofia, na Ciência, na Política. Baboseiras! Hoje eu penso nos sentidos, nos sonhos, nas mulheres e na lua. Essa lua cheia de solidão. Pronta para chorar suas mágoas nos ombros de qualquer poeta fajuto, por aí.
Estou deprimido. Não muito. Acho que as ruas estão mais. São o nosso caminho, mas não o nosso holofote. E é brincando cá com meus botões lunáticos, que vejo que nada é mais triste que a rua, rua vazia. Nenhuma mulher de saia. Não sei, mas ela está bem taciturna.
Volto a olhar para a lua, por cima das telhas. Ela pisca para mim. Já sei que é minha amiga. O sentimento de ser só, num vácuo cheio de nada, é mútuo.
[...]
Os telhados. Eles eram diferentes uns dos outros, sabe? Eu nunca tinha reparado nisso. Por certo, eu nunca reparei nas coisas que não vejo. O que é errado. Só situar o telhado por cima de nós, que não o olhamos direito. Busquei mudar ‘my point of view’, como dizem os ingleses. Não, eu não falo inglês. Não fluentemente. Não morro de fome. Give me something to eat, please!
Por que será que falei de fome? Acho que não como há dias, mas não tenho fome. Fico só com vontade de pensar e de olhar para a lua. Acho que sou ‘luívoro’. Eu e minhas bobagens. O manicômio não me ensinou nada mesmo. Só a pensar. Eu não sabia pensar (e, em geral, as pessoas não o sabem), agora eu sei.
Juro que antes eu pensava na Filosofia, na Ciência, na Política. Baboseiras! Hoje eu penso nos sentidos, nos sonhos, nas mulheres e na lua. Essa lua cheia de solidão. Pronta para chorar suas mágoas nos ombros de qualquer poeta fajuto, por aí.
Estou deprimido. Não muito. Acho que as ruas estão mais. São o nosso caminho, mas não o nosso holofote. E é brincando cá com meus botões lunáticos, que vejo que nada é mais triste que a rua, rua vazia. Nenhuma mulher de saia. Não sei, mas ela está bem taciturna.
Volto a olhar para a lua, por cima das telhas. Ela pisca para mim. Já sei que é minha amiga. O sentimento de ser só, num vácuo cheio de nada, é mútuo.
[...]
sábado, 9 de novembro de 2013
COMO MATAR COM FRASES CURTAS
Mas ela,
ao menos, sentia algo bom por mim. Por isso a camisola. Por isso a alvorada. Eu
a odiava. Não importava o motivo. Ela me fez romper a vida, o amor-próprio e as
contas. E estes são pretextos suficientes para se detestar alguém.
Ficou nua.
Não. Eu
não ia me deitar com aquela mísera novamente. Mas ela estava nua. E me queria. Eu
sou homem, não podia resistir. Empurrei-a para trás. Ao relar em seus braços
nus, brancos e macios, não senti nada; não existia mais tesão nem desejo por
ela.
Eu broxei.
Foi uma
vitória. Eu, contra quem acabou com minha vitalidade. Fechei os olhos. Ela ia
saindo do quarto. Abri-os, de novo. Rebolava, maliciosamente, aquele bumbum
arrebitado e peladinho.
Um instante
de desonra. Eu sou homem. Odiei-a por trás, feito égua. Ela caiu. Levantou-se
nunca mais. Vinguei-me.
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
INSÓLITO COTIDIANO: ESTRANGEIRO DO MUNDO REAL II
Sou forte. Sempre me menti isso.
Às vezes, me dizia tão bem que até chegava a acreditar, sabe? Na boa, eu sou é
um fracote. Um fracote rebelde. A rebeldia me deixa insone, até! Mas ela me dá
uma sensação boa de dever cumprido. Mais uma enganação para as contas de
mentiras da minha vida.
Se eu
falar que minha vida toda foi baseada em enganos, além de estar plagiando
Veríssimo, estaria mentindo. Porém, mais mentiras sossegadoras para a falaciosa
intenção de ser que tenho, seria uma ironia.
E de
ironias eu entendo um bocado.
Além de
minha rebeldia carbonariana, a minha mania de querer ser o que não sou, o
artista arteiro e maconheiro que demonstro bem ser, é de mentira; ele não
existe. As crônicas que escrevo e as poesias que recito nem minhas são,
totalmente.
Mas,
então, o que é meu? O que sou eu? Tá aí a pergunta que rege a minha existência.
Quase uma Teoria do Caos, sem equação, sem resposta; nem mesmo sei se ela
existe!
Caos,
assim passarei a me chamar agora. Só eu me chamando, claro. Não vou sair por aí
me apresentando assim. As pessoas comuns e normais, que acham que se entendem,
se conhecem e são livres, achariam, também, esse meu nome estranho. Caos? Um
rapaz tão bonito com um apelido destes!, poderiam dizer.
Eu era
bonito; aliás, sou. Talvez seja este o motivo de eu ainda estar vagueando,
mesmo que a esmo e a erro. Ser bonito também é um erro. Eu não quero ser apenas
o belo que se vê. Se as pessoas sentissem mais e olhassem menos, estaríamos
perto de uma revolução que apaziguaria nervos. Que construiria pessoas
verdadeiras.
E por
falar em verdade, vou lhes apresentar minhas contas: 43; aos 20 me casei; aos
30 em divorciei; aos 32 fui parar num manicômio; aos 41 saí de lá; desde então,
enlouqueço cada vez mais. A contagem do tempo não faz sentido. Contamos
experiências girando em torno de uma estrela! Não sei como acontece em outros
mundos, mas aqui é esta bobagem.
(...)
sábado, 2 de novembro de 2013
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
terça-feira, 29 de outubro de 2013
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Unas manos
“E agora tenho as artérias cheias de eteceteras”, Bunbury.
Contava ela 15 verões, dos quais espreitei os últimos cinco. Como foi generosa a natureza a ela, desde seu nascimento, no final da infância, no inicio da mocidade, na mulherês... Sim, agora era ela uma mulher, sem dúvidas. Não que já não a fosse desde que viera brilhar mais que o Sol, porém agora era-a de carne, de alma. E de amor. Podia qualquer sujeito de calças enamorar-se dela – e, realmente, isso acontecia muito, era verídico – mas nenhum que venha depois de hoje, nunca será tão bem agraciado como fora eu esta noite. Esplendida madrugada fria e sem luar... Dentro dos aposentos: quente, luminosa, viva, voluptuosa... Não parecia nem haver tempo passado, nem tempo em horas, muito menos dia e noite. Ali contou-se o tempo das trocas de palavras doces, ‘quero-te minha, só minha’, de troca de olhares maliciosos, de carícias. Até que, nus, aprontamo-nos ao encanto dos lençóis e rendemo-nos fervorosamente ao pecado original.
Não foi maldade, não, leitor amigo. Sei que ela era donzela. Ela sabia-o também. Mas estava pronta para se entregar ao desejo mor das almas românticas, como mulher nenhuma neste mundo de Deus estivera antes.
Já eu, gatuno velho e muito vivido, tinha 42 anos de experiências. Conhecia bem a vida, o reflexo do espelho, a época das frutas, os bares e cabarés mal e bem frequentados. Saboreava corpos femininos desde minha juventude. Sempre fui solteiro, fanfarrão, não atrelava-me a senhorita alguma. Cheguei a apaixonar-me de algumas, em certas primaveras, porém não eram a mim nada mais que corpos deliciosos, bocas metidas e cabeças vazias. Essa moça, que ao meu lado dormia o sono dos anjos, que até pouco tempo incandescia uma índole infantil e ingênua, é diferente. Sua inteligência é espontânea, sua sagacidade feroz e polida, seu senso esbanjava classe. Tinha ela porte de dama fina e esclarecida, de senhora altiva e dona de si. Entretanto, ao mesmo tempo – e, pedofilamente, confesso que isso foi o que mais juntou minha alma a ela – tinha um riso cândido, um narizinho empinado e uma silhueta de ninfeta tão graciosa e viciante.
Sim, leitor, podes tu agora pensar que exagero, que ela é apenas uma ex-donzela e falo estas sentimentalidades por tê-la me dado sua pureza. Concordo veemente contigo. Mas se tu estivesses aqui, no meu lugar, aposto que não estaria apenas fitando-a, nua sob tez alva e naturalmente cheirosa; sentado aos pés da cama, escrevendo estas baboseiras que outros tantos amantes já escreveram sobre suas amadas. Estarias tu, neste momento, embebido nos lisos cabelos loiros e no suave hálito doce, transcorrendo sus manos por ela... E por amor.
Amo-a, sei disso. Amo-a mais que tudo; mais que amo a vida noturna – com mulheres frias, de sexo livre e experientes (nenhuma delas fez-me tão homem quanto minha pequena), mais que minha clandestina solidão, meus negócios, minha solteirice... Amo-a mais que amo a mim, mais que todas as outras coisas do mundo. Dar-lhe-ia, se necessárias fossem, minhas vísceras. Vê-la contente, a partir da inesquecível empreitada desta madrugada, será meu almejar, leitor. Creia.
E eu tanto queria saber em que ela sonhava, pois tinha os lábios em forma de sorriso. Ela assim deitou-se e repousou da mesma maneira, fazia apenas movimentos graciosos com suas pernas despidas.
Linda.
Lindíssima.
Quero-te eternamente ao meu lado, pois assim penso que queres a mim. E acredito que será – espero, ao menos.
E neste instante, a terminar minhas confissões, ela acorda junto com o Sol. Não tenho certeza de qual ofusca mais meus honrados olhos. Invejai-os, leitor! Deito-me ao lado de minha paixão. Beijo-a ternamente na testa. Respeito seu exílio. Sinto-a me abraçar e desejo-a mais uma vez. Estamos a nos amar, manhosamente.
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
Néscios também amam
Senhora,
Te amo tanto a não
querer-me prisioneiro de ti. E prefiro a vida noturna, as mulheres fáceis e
vazias a pôr-me algemas por amar uma única vez.
Me doíam
tuas tristes manias de mocinha de boa conduta, que freavam-me a excitação. Te queria
por mulher, mais que por coração; talvez do mesmo tanto, até.
Te queria
à pureza.
E seduzir-te-ia
ao desejo.
Mas
nem ao casto sentimento que rege os astros e suas espontâneas explosões, nem ao
teso pecado original, do calor da carne crua, tu quiseste e me deste a chance
de viver.
Foste
cruel.
E não
preciso da crueldade pura quando posso pagar pelo fogo postiço dos pequenos
lábios alheios.
Não
me veja por carrasco ou viciado em questões de sexo, só ousaria ter-te minha se
tu me abrisses as ideias e os trajos.
Não
se acabrunhes agora, sei que traz riso nos lábios e quentes lágrimas de
rancoroso arrependimento. Se minto ou me engano, tem-me como convencido e sê capaz de odiar-me.
Lembra-te
das vezes que clamei por ver-te e tu me enchias de lamúrias e dores? Preferias a
solidão de tuas noites frias no quarto, a querer ter comigo, algo como aperto
de mãos.
E ainda
me maltratavas dizendo teu amor por mim! Que súcia! Por que me enganavas? Sempre
te quis por minha e tu me vinhas com juras falsas, dava-me esperança.
Cansei-me
de teu desprezo.
Larguei
toda sociedade rica e a vida noturna, para me dar ao teu amor. Lutaria todos os
dias por ele, se, ao menos, tu me concedesses armas à luta. Nem um reles canivete.
Só me
seria suficiente saber que tipo de demônio te move às tuas enganações e a ter
teiado meu caminho.
Te juro
não pensar mais em ti ao deitar-me com outras mulheres. Te juro a praga que te
rogo a morrer seca e só. E te juro que morreria se esta praga funcionasse...
Não
me respondas, senhora, sê livre para te esqueceres de mim. Sê livre para
não me sentires a falta. Sei que não a sentirás.
Esquece-me
para sempre.
O
néscio que te amará eternamente.
terça-feira, 22 de outubro de 2013
SERMÃO DO TERRÁQUEO
Todos
nós, terráqueos, somos iguais. Se somos plantas, ou insetos ou lagartos ou
pessoas. Somos todos da mesma evolução, desde que a Terra resolveu abrigar
nossa era. Na explosão inicial, tudo era poeira, fogo e hidrogênio. O som não
se espalhou pelo vácuo, foi um boom silencioso. Tempos e tempos depois, a vida
sorriu para o nosso lado e nos brindou com enigmas a importância de sermos
nada. Dizer que o universo não seria o mesmo se não houvesse vida, é a parte
mais soberba do nosso ego se inflando. Carl Sagan que me perdoe. Porém de
ciências astronômicas ou físicas eu não entendo, mas aqui venho expressar meu
lado mais egoísta, minha visão sobre a condição humana da curiosidade e uma
perspectiva para o estouro interno de sentimentos que nada se confundirão com o
dos astros.
Talvez
você creia na sua racionalidade como a forma de diferi-lo das outras espécies
remanescentes [que ainda sobrevivem no mesmo mundo que nós]. Talvez você, com
sua ladainha, venha querer me provar que tem sua opinião, sua decisão e seu
poder de discernimento. Pior ainda: você virá me convidar a um festejo, cujo
cerne será a vitória do seu poder de subjugar outras formas de vida, como se
elas fossem menor que a sua, menor que o seu direito de ser livre e de viver
plenamente.
Na
verdade, a forma que pensamos nos nossos poderes é bem diferente da de que
podemos tê-lo. Nossa estadia é curta e sempre incorporamos alguma coisa da
sociedade. Por que, além de racionais, cremo-nos ‘sociáveis’. Uma das maiores
piadas que já me contaram. Sociáveis, nós? Nem conosco mesmo, nem com os
outros. Toda a terra tem o desgosto de conviver com nosso egocentrismo.
Achamo-nos
racionais e sociáveis. Mais inteligentes. Nossa inteligência é movida pelo
novo. Pela vontade de descobrir. Até nos depararmos com questões que, se
respondidas, será o fim da nossa espécie. Entretanto, esta é uma questão menos
inata que parece.
A
curiosidade do ser humano depende em que contexto ele está inserido, em que
tipo de sociedade, qual foi a educação dada a ele.
Ninguém com uma
consciência modesta perceberia que a curiosidade é perigosa para a nossa
sobrevivência na Terra. “Que baboseira”, diria esta mesma consciência modesta; “afinal,
é a vontade de saber coisas novas que move o mundo”.
Não.
Está aí, mais uma
concepção egoísta que nós temos sobre nossa importância. Quando começamos a
caçar não foi pela curiosidade de saber qual a sensação de matar um animal, mas
sim para nossa sobrevivência. Quando conseguimos produzir fogo, não foi para
fazer queimadas, e sim para nossa sobrevivência. Quando inventamos a energia
elétrica, não foi para a nossa sobrevivência, foi por uma simples questão de
comodidade. Quando inventamos a energia nuclear, indireta ou diretamente, foi
para nos sobrepormos a nós mesmos. Pessoas contra pessoas. Fortes contra
fracos. Ricos contra pobres.
E qual a consequência
de tanto invento, de tanta manifestação do valor humano sobre os demais? será
que é por causa destas invenções que nós pensamos ser mais racionais e dignos
que os elefantes, por exemplo?
Sim, nós, humanos,
temos a ojerizante mania de querer sempre crescer em riquezas e poderes. Mas o
que te torna mais forte que seu semelhante? a sua saúde e seu poder de caça, ou
o seu conteúdo econômico? A evolução humana findou-se com o surgimento dos
primeiros pensadores. Foi quando o ser humano deixou de lado seus instintos
animais para demonstrar ao mundo sua concepção de vida correta, plena e feliz.
Os animais nos parecem
tristes e depressivos quando a natureza os rege? pois bem, eles vivem da
maneira que têm que se viver. E isso não é e nem chega perto de comodidade, mas
sim de consciência de seu lugar no mundo. E ainda nos orgulhamos da
racionalidade! Não fui eu, nem você, ou ao menos o presidente da ONU que
regulamentou como eles devem viver, e sim a evolução das espécies.
Se os seres humanos
seguissem mais seus instintos animais que sua racionalidade, não precisaríamos
nem de analistas para nos conhecermos.
A curiosidade trouxe a
ruína para o planeta. "Do pó viemos, para o pó voltaremos", frase
nenhuma exprime melhor nosso passado e futuro. E nesse meio tempo, vivemos
crendo que a felicidade existe, que a vida moderna faz sentido e que, mesmo
sendo a única espécie que paga para viver aqui, ainda teremos alguma recompensa
nesta ou numa próxima vida.
Dizem alguns que o
segredo para uma vida longa é comer pouco. Outros ainda tentam me convencer da
baboseira que viver bem é gastar seu tempo da mais produtiva maneira. Eu, já
concordando com Cândido de Voltaire, penso que "devemos cultivar nosso
próprio jardim", sem pensar no que as borboletas possam nos oferecer de
sua beleza, ou em que época as abelhas polinizarão ano que vem. Conhecer-se a
si próprio, sem esperar nada de fábulas tranquilizadoras que nada mais querem
que reger seu discernimento, aquele mesmo que você tanto se orgulha ser de sua
propriedade, e ter ciência do teu lugar no universo, proporcionar-te-iam
melhores emoções do que a compra de um carro ou o ingresso numa universidade.
O que guia nossas
emoções não é nada inventado pela modernidade, veio conosco desde nossos
primórdios e cavernoso passado. Um verso, de minha autoria, conta-nos aquilo
que poucos querem ouvir: "Essa tal de vida moderna.../ Esse negócio de
dívida externa.../ Deixa a evolução tardia e/ Eu só queria voltar para a minha
caverna."
A vida moderna não tem
sentido! que bem evolutivo você, pensando de maneira crítica, encontra na vida
que você vive? é duro acreditar que a modernidade só tem aprimorado o TEU
retardamento pessoal, que toda a sapiência que você acha que tem, se esvairá no
seu leito de morte, e você ainda vai morrer achando que contribuir para o seu
'belo quadro social' (Ouro de tolo, Raul Seixas) foi a melhor coisa que você
fez.
Olhar a sua volta é
fácil, viver conforme a sociedade positivista melhor quer que você se
desenvolva, também; agora tente si escutar aos sentimentos próprios que vem com
você desde que éramos poeira de estrelas.
(Terráquea
Quintiliano)
14.10.2013
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